(LIVRO) – Serie Ensino, Aprendizagem e Tecnologia – Desenvolvimento, Agricultura e Sustentabilidade

Titulo: Serie Ensino, Aprendizagem e Tecnologia – Desenvolvimento, Agricultura e Sustentabilidade

Autores: Fabio dal Soglio e Rumi R. Kubo (Orgs.)

Ano: 2016 – (Pags 206)

Este livro foi preparado para enriquecer o acervo de textos originais de apoio aos alunos da disciplina Agricultura e Sustentabilidade, oferecida no Curso de Bacharelado em Desenvolvimento Rural – PLAGEDER da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele dá continuidade à publicação de um primeiro volume, publicado em 2009, que tinha o escopo inicial de disponibilizar para os alunos do curso revisões atualizadas de artigos acadêmicos que versassem sobre temáticas relacionando a agricultura como um todo – e não exclusivamente seu recorte produtivo – com as perspectivas de desenvolvimento sustentável. Aquela primeira publicação não tinha a pretensão de esgotar a temática, e tampouco a de se constituir como referência para fora do curso. Mas, para nossa surpresa, os textos publicados passaram a ser amplamente utilizados e citados, pois cumpriam um papel interessante na revisão da bibliografia disponível, e muitas vezes de difícil acesso ou compreensão, para um público mais abrangente que o do corpo discente do PLAGEDER.

http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad105.pdf

 

 

(LIVRETO) Agroecologia: uma ciência do campo da complexidade

Titulo: Agroecologia: uma ciencia do campo da complexidade.

Autores: Francisco R. Caporal (Orgs) – Gervacio Paulus e Jo´se A. Costabeber.

Ano: 2009 – (Pags. 110)

Apresentação: Os dois artigos que o leitor tem em suas mãos, reunidos neste livreto, são fruto de um processo de acúmulo do pensamento sobre a Agroecologia como ciência do campo da complexidade. Desde o início da década passada, temos dedicado parte de nosso tempo, fora da experiência ativista de nossas ações extensionistas cotidianas, para aprofundar nossas reflexões sobre Agroecologia, como contribuição para a construção de um paradigma agroecológico. Inúmeros textos, alguns citados na bibliografia e outros disponíveis em diferentes páginas da web
testemunham esta trajetória, que é intelectual, mas que é também referenciada pelo nosso “que-como-fazer” na práxis extensionista. Iniciamos com nossas teses de mestrado e doutorado, explorando um campo ainda muito obscuro e movediço da ciência agroecológica. Em seguida, nossas responsabilidades na direção da EMATERRS exigiram que trabalhássemos no sentido de fazer mais visível a aplicabilidade dos conceitos e princípios da Agroecologia como orientadores de uma prática diferenciada de extensão rural, que nestes textos conceituamos como Extensão Rural Agroecológica.

file:///C:/Users/User-PC/Documents/BLOG-LTM/Agroecologia_uma_ciencia_do_campo_da_com.pdf

(ARTIGO) – Polinização é ameaçada por desmatamento e agrotóxicos no Brasil –

Titulo: Polinização é ameaçada por desmatamento e agrotóxicos no Brasil

Autor: Elton Alisson

Ano: 2019

Das 191 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas para a produção de alimentos no Brasil, com processo de polinização conhecido, 114 (60%) dependem da visita de polinizadores, como as abelhas, para se reproduzir. Entre esses cultivos estão alguns de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max), o café (Coffea), o feijão (Phaseolus vulgaris L.) e a laranja (Citrus sinensis).

Esse serviço ambiental (ecossistêmico), estimado em R$ 43 bilhões anuais, fundamental para garantir a segurança alimentar da população e a renda dos agricultores brasileiros, tem sido ameaçado por fatores como o desmatamento, as mudanças climáticas e o uso de agrotóxicos. A fim de combater essas ameaças, que colocam em risco a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade brasileira, são necessárias políticas públicas que integrem ações em diversas áreas, como a do meio ambiente, da agricultura e da ciência e tecnologia.

O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores autores do 1º Relatório Temático de Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil e de seu respectivo “Sumário para Tomadores de Decisão”, lançados quarta-feira (06/02), durante evento na FAPESP.

Resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, da sigla em inglês), apoiada pelo Programa BIOTA-FAPESP, e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP), o relatório foi elaborado nos últimos dois anos por um grupo de 12 pesquisadores e revisado por 11 especialistas.

O grupo de pesquisadores fez uma revisão sistemática de mais de 400 publicações de modo a sintetizar o conhecimento atual e os fatores de risco que afetam a polinização, os polinizadores e a produção de alimentos no Brasil, e apontar medidas para preservá-los.

“O relatório aponta que o serviço ecossistêmico de polinização tem uma importância não só do ponto de vista biológico, da conservação das espécies em si, como também econômica. É essa mensagem que pretendemos fazer chegar a quem toma decisões no agronegócio, no que se refere ao uso de substâncias de controle de pragas ou de uso da terra no país”, disse Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do programa BIOTA-FAPESP e membro da coordenação da BPBES, durante o evento.

O relatório indica que a lista de “visitantes” das culturas agrícolas supera 600 animais, dos quais, no mínimo, 250 têm potencial de polinizador. Entre eles estão borboletas, vespas, morcegos, percevejos e lagartos.

As abelhas predominam, participando da polinização de 91 (80%) das 114 culturas agrícolas que dependem da visita de polinizadores e são responsáveis pela polinização exclusiva de 74 (65%) delas.

Algumas plantas cultivadas ou silvestres dependem, contudo, exclusivamente ou primordialmente de outros animais para a realização desse serviço, como é o caso da polinização de flores de bacuri (Platonia insignis) por aves. Outros exemplos são da polinização de flores de pinha (Annona squamosa) e araticum (Annona montana) por besouros, de flores de mangaba (Hancornia speciosa) por mariposas e de flores de cacau (Theobroma cacao) por moscas.

“As plantas cultivadas ou silvestres visitadas por esses animais polinizadores enriquecem a nossa dieta ao prover frutas e vegetais que fornecem uma série de nutrientes importantes”, disse Marina Wolowski, professora da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e coordenadora do relatório. “Outras plantas cultivadas pelo vento, como o trigo e o arroz, por exemplo, estão mais na base da dieta”, comparou.

Os pesquisadores avaliaram o grau de dependência da polinização por animais de 91 plantas para a produção de frutas, hortaliças, legumes, grãos, oleaginosas e de outras partes dos cultivos usadas para consumo humano, como o palmito (Euterpe edulis) e a erva-mate (Ilex paraguariensis)

As análises revelaram que, para 76% delas (69), a ação desses polinizadores aumenta a quantidade ou a qualidade da produção agrícola. Nesse grupo de plantas, a dependência da polinização é essencial para 35% (32), alta para 24% (22), modesta para 10% (9) e pouca para 7% (6).

A partir das taxas de dependência de polinização dessas 69 plantas, os pesquisadores estimaram o valor econômico do serviço ecossistêmico de polinização para a produção de alimentos no Brasil. O cálculo foi feito por meio da multiplicação da taxa de dependência de polinização por animais pela produção anual do cultivo.

Os resultados indicaram que o valor do serviço ecossistêmico de polinização para a produção de alimentos no país girou em torno de R$ 43 bilhões em 2018. Cerca de 80% desse valor está relacionado a quatro cultivos de grande importância agrícola: a soja, o café, a laranja e a maçã (Malus domestica).

“Esse valor ainda está subestimado, uma vez que esses 69 cultivos representam apenas 30% das plantas cultivadas ou silvestres usadas para produção de alimentos no Brasil”, ressaltou Wolowski.

Fatores de risco

O relatório também destaca que o serviço ecossistêmico de polinização no Brasil tem sido ameaçado por diversos fatores, tais como desmatamento, mudanças climáticas, poluição ambiental, agrotóxicos, espécies invasoras, doenças e patógenos.

O desmatamento leva à perda e à substituição de hábitats naturais por áreas urbanas. Essas alterações diminuem a oferta de locais para a construção de ninhos e reduzem os recursos alimentares utilizados por polinizadores.

Já as mudanças climáticas podem modificar o padrão de distribuição das espécies, a época de floração e o comportamento dos polinizadores. Também são capazes de ocasionar alterações nas interações, invasões biológicas, declínio e extinção de espécies de plantas das quais os polinizadores dependem como fonte alimentar e para construção de ninhos, e o surgimento de doenças e patógenos.

Por sua vez, a aplicação de agrotóxicos para controle de pragas e patógenos, com alta toxicidade para polinizadores e sem observar seus padrões e horários de visitas, pode provocar a morte, atuar como repelente e também causar efeitos tóxicos subletais, como desorientação do voo e redução na produção de prole. Além disso, o uso de pesticidas tende a suprimir ou encolher a produção de néctar e pólen em algumas plantas, restringindo a oferta de alimentos para polinizadores, ressaltam os autores do relatório.

“Como esses fatores de risco que ameaçam os polinizadores não ocorrem de maneira isolada é difícil atribuir o peso de cada um deles separadamente na questão da redução das populações de polinizadores que tem sido observada no mundo”, disse Wolowski.

Na avaliação dos pesquisadores, apesar do cenário adverso, há diversas oportunidades disponíveis para melhorar o serviço ecossistêmico de polinização, diminuir as ameaças aos polinizadores e aumentar o valor agregado dos produtos agrícolas associados a eles no Brasil.

Entre as ações voltadas à conservação e ao manejo do serviço ecossistêmico de polinização estão a intensificação ecológica da paisagem agrícola, formas alternativas de controle e manejo integrado de pragas e doenças, redução do deslocamento de agrotóxicos para fora das plantações, produção orgânica e certificação ambiental.

Uma política pública destinada aos polinizadores, à polinização e à produção de alimentos beneficiaria a conservação desse serviço ecossistêmico e promoveria a agricultura sustentável no país, estimam os pesquisadores.

“Esperamos que o relatório ajude a estabelecer planos estratégicos e políticas públicas voltadas à polinização, polinizadores e produção de alimentos em diferentes regiões do país”, afirmou Kayna Agostini, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e também coordenadora do estudo.

Na avaliação de Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, o relatório incorpora várias atividades que o programa BIOTA tem feito ao longo dos seus 20 anos de existência. Entre elas, a de fornecer subsídios para políticas públicas.

“O BIOTA-FAPESP participa ativamente da vida do Estado de São Paulo e do país ao fornecer subsídios científicos para as decisões governamentais e, ao mesmo tempo, realizar atividade de pesquisa da maior qualidade em uma área vital”, disse Zago na abertura do evento.

Também esteve presente na abertura do evento Fernando Dias Menezes de Almeida, diretor administrativo da FAPESP.

Link: http://agencia.fapesp.br/polinizacao-e-ameacada-por-desmatamento-e-agrotoxicos-no-brasil/29730/?fbclid=IwAR1dpwT-eHR4jguQxovyMaagQX6jy13nH6V5E7j0C9Q5-SN4DWvYTMYgdig#.XFwe2u-HAMU.facebook

(ARTIGO) – Quem é quem no organograma agrário e ambiental do novo governo –

Titulo:  Quem é quem no organograma agrário e ambiental do novo governo

Autores: Por Luiza Dulci e Nilton Tubino

Ano: 2019

Introdução: Não existe mais a disputa interna entre agronegócio e agricultura familiar que teve lugar nos governos Lula e Dilma, ou até antes. A agenda da produção agrícola em larga escala é um dos carros-chefes do governo Bolsonaro e está assegurada por aliados em outras pastas ministeriais. Medidas tomadas nestes primeiros dias de janeiro dão o tom e a direção do novo governo nas áreas socioambiental e agrária. Apesar das mudanças drásticas, há que se registrar que não há espanto, afinal todas ou quase todas as medidas haviam sido anunciadas na campanha eleitoral e no período de transição. A medida provisória (MP) 870, publicada em 2 de janeiro de 2019, e os posteriores decretos sobre pastas específicas, definiram nova estrutura governamental com 22 ministérios e 19 secretarias especiais. A fusão de ministérios e a criação dos chamados superministérios – Economia, Agricultura, Cidadania – não resulta propriamente em redução da máquina e da burocracia. Vale mencionar, por exemplo, que o Ministério da Cidadania, antigo Ministério do Desenvolvimento Social, que anexou Cultura e Esportes, prevê em sua estrutura até 19 secretarias. Da mesma forma, o novo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que anexou a antiga secretaria especial da Pesca, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead), por sua vez ex-Ministério do Desenvolvimento Agrário, conta agora com sete secretarias.

Link: http://brasildebate.com.br/quem-e-quem-no-organograma-agrario-e-ambiental-do-novo-governo/?fbclid=IwAR1h1bp3Uho8OFDJXUkUb0pdYcgNCZPmF-OgSvJZKb-680ZMhTvR-rW7HDI#.XGV6pFjKM_U.facebook

(OPINIAO PUBLICA) Política agrária e Incra: questão de (dês)ordem ou de (dês)igualdade? –

Titulo: Política agrária e Incra: questão de (dês)ordem ou de (dês)igualdade?

Autor: Por Carlos M.Guedes de Guedes

Ano: 2019

Das repercussões sobre a nomeação do general João Carlos de Jesus Corrêa para a presidência do Incra acompanhei particularmente os elogios a respeito da decisão presidencial. Os argumentos enfatizam a “necessária colocação de ordem” na questão agrária e na gestão da autarquia. O motivo, dizem, se deve ao fato do Incra ter se tornado um órgão que, ao fim e ao cabo, se notabilizou por recepcionar demandas democráticas sobre a desconcentração da terra e reparações históricas como a regularização dos territórios quilombolas, previstas na Constituição Brasileira. Um problema na visão de alguns. Fala-se em “pente-fino” na autarquia e uso da autoridade militar para resolver os conflitos fundiários no Brasil.

Vale lembrar que os movimentos sociais rurais de luta pela terra (re)nascem exatamente durante a ditadura militar[1]. Ou seja, não é novidade sentarem à mesa com militares sobre conflitos agrários e possíveis soluções. A novidade do próximo período talvez esteja no desafio de compreender como a questão da propriedade da terra se relacionar mais intensamente com o capital financeiro, e de que forma essa conexão provoca mais concentração e riqueza para poucos. Para o órgão fundiário, o desafio está em reconhecer a questão e enfrentá-la, ou assistir passivamente. Esse é um problema real que se acumula a outras medidas do atual governo, como o enxugamento fiscal da política agrícola, as perdas de mercados externos por postura ideológica, e retirada de mecanismos de proteção para produção interna. O MST é mesmo o problema? E as dívidas dos agricultores nos bancos, e a enxurrada de leite importado que liquidará a produção nacional[2]?

Por meio da Lei de Acesso à Informação[3] é possível conhecer não apenas o que está acontecendo no rural brasileiro, mas também quem está se apropriando dos ganhos no campo. Dados do cadastro do Incra e da certificação de imóveis rurais sobrepostos ao Cadastro Ambiental Rural e dados do IBGE nos mostram a expansão das commodities agrícolas sempre demandando mais terras. Nessas mesmas regiões, entretanto, vivem comunidades que cultivam comida e praticam agricultura ou pecuária de economia familiar. A partir da retirada negociada ou de forma violenta das ocupações tradicionais, inicia-se um processo em que os ganhos produtivos se combinam com os ganhos especulativos; há um salto exponencial em lucratividade, etapas são abreviadas em função do baixo preço da terra com vegetação nativa a ser suprimida e mão-de-obra disponível e barata. O progresso técnico consolida o ciclo. O desmatamento aumenta o PIB. O território é transformado.

A partir do momento em que foi atingido o teto de ganhos nos territórios conquistados, novas áreas são necessárias. Em vez de recuperar terras degradadas em latifúndios, buscam Unidades de Conservação e Terras Indígenas, porque expandir sobre essas áreas é mais barato do que recuperar solos exauridos. O número de empresas donas de terras no Brasil cresce a cada ano, cada vez mais associadas a fundos de investimento internacionais[4]. Tais empresas acessam os limitados recursos do crédito rural e novos mecanismos de financiamento porque oferecem menor “risco” aos bancos. E assim, o círculo vicioso da exclusão impede que pequenos e médios consigam competir. Está aberta a fábrica de sem-terra, pois não resta outra alternativa a não ser abandonar a atividade e vender o patrimônio, já que, fruto da especulação, a propriedade adquire um preço muito superior ao retorno que os cultivos alimentares conseguem obter. Quando interesses externos definem a continuidade ou não de famílias produtoras no campo do Brasil, estamos falando, sim, de perda de soberania territorial e alimentar. Estamos falando de terras que param de produzir arroz e feijão para atender aos interesses de fora do país.

Soberania continua sendo palavra de ordem nos concorrentes internacionais do Brasil no mundo do “agro”. Aqui, sempre tivemos setores da sociedade atentos a esse tema, nos quais se incluíam os militares. É do período militar a criação da Lei 5.709/71, que trata da limitação da aquisição de terras por estrangeiros. Assim voltamos à questão de ordem para a nova gestão do Incra: ceder aos interesses internacionais a partir de seus prepostos fora e dentro do governo, ou impor limites à expansão especulativa a fim de não ampliar desigualdades no campo e, consequentemente, não aumentar o número de sem-terra para se preocupar.

Link: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2019/02/politica-agraria-e-incra-questao-de-desordem-ou-de-desigualdade-por-carlos-m-guedes-de-guedes/

(ARTIGO) Em Defesa dos Trabalhadores Rurais

Titulo: Em Defesa dos Trabalhadores Rurais

Autor: Jean Prates

Ano: 2019

Sob a alegação de combater fraudes em benefícios previdenciários, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória, a MP 871/2019, alterando regras de concessão de pensão por morte, auxílio-reclusão e aposentadoria rural. A estimativa do governo é economizar R$ 9,8 bilhões apenas no primeiro ano de vigência da medida. Na prática, a MP vai inviabilizar o acesso aos direitos previdenciários de milhões de trabalhadores rurais, penalizando aqueles que mais precisam da Previdência. O trabalhador rural considerado segurado especial pela Previdência é aquele que trabalha no regime de economia familiar em pequena propriedade (de até 4 módulos fiscais). A MP determina que não serão mais aceitas as declarações dos sindicatos rurais como prova dessa atividade rural. Também deixarão de ter validade as declarações de colônias de pescadores.

Por enquanto, a autodeclaração do segurado especial será válida, mas apenas se ratificada por entidades credenciadas no Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária (PRONATER), ligado ao Ministério da Agricultura, ou por outros órgãos públicos. A partir de 2020, somente serão aceitas as informações registradas junto ao Ministério da Economia, por meio de um cadastro próprio vinculado ao Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). Esta será a única forma de comprovar o tempo de trabalho rural sem contribuição. Se a malfadada medida provisória não for rejeitada ou, no mínimo, alterada – e a regra que penaliza os segurados especiais for mantida – a partir de janeiro de 2020 haverá a exclusão da maioria dos pequenos produtores rurais do acesso à proteção previdenciária. Tomando como exemplo o número de segurados especiais cadastrados no CNIS-Rural, que não alcança 10% do montante total, constataremos que os poucos cadastros existentes foram realizados pelos sindicatos que representam os trabalhadores rurais, mediante acordo de cooperação técnica firmado com o INSS para esta finalidade específica.

É bom lembrar que nos pequenos municípios do país, mesmo nos órgãos públicos, não há estrutura organizada para comportar a alimentação desse sistema, atendendo os segurados especiais em sua integralidade. Muitos dos órgãos e instituições vinculadas à União e aos Estados sequer estão presentes em todos os municípios. Nos próprios municípios, sobra carência de recursos financeiros e humanos para a realização do atendimento à população,

Preocupado com esta situação, e em consonância com o que defende a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), apresentei 13 emendas à MP 871 propondo a manutenção dos acordos de cooperação com as entidades sindicais. Defendo que os sindicatos continuem com a incumbência de ratificar a autodeclaração do segurado sobre sua condição de segurado especial e o exercício da atividade rural. Esse trabalho dos sindicatos, ao contrário do que talvez possa especular o governo por meio da medida provisória, contribui de forma significativa para evitar fraudes na Previdência. Entre as emendas que propus, uma delas adia para janeiro de 2029 a decisão de o CNIS Rural ser usado como prova exclusiva. Também mantém os acordos de cooperação com os sindicatos e colônias de pescadores. Outra mantém o prazo quinquenal para o requerimento do salário-maternidade.

Também emendei a MP para estabelecer que o INSS deve firmar acordo de cooperação com sindicatos para atendimento dos segurados, além de impedir que o governo firme acordo de cooperação com instituições financeiras para este mesmo objetivo. Trabalharei em conjunto com a bancada do PT e outras forças progressivas no Congresso para evitar que esta desumanidade seja efetivada contra os trabalhadores rurais.

Jean Paul Prates é economista e advogado. Senador pelo Rio Grande do Norte/Brasil

Link: https://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FSeguridade%2FEm-defesa-dos-trabalhadores-rurais%2F63%2F43404&fbclid=IwAR1SSTDxLLkDX-uz-ZJvldtu9nxainDjGhAXlu2i6e0FmXeyCN9OxOeXD3Q#.XHcW27xi19U.facebook

 

(LIVRO) Plantando sonhos. Experiências em Agroecologia no Estado de São Paulo

Titulo: Plantando sonhos. Experiências em Agroecologia no Estado de São Paulo

Autora: Marcia Tait Lima

Ano: 2018

Apresentação

Eis aqui um livro construído por múltiplos autores. Os diversos grupos que existem e resistem em cada canto do estado de São Paulo relataram suas experiências, práticas, desafios, evidenciando a realidade de diversos atores e o dia-a-dia de quem luta por uma agricultura de base ecológica, justa, que trás benefícios socioambientais, valoriza cultura local e equidade de gênero e idade. Este livro surgiu como resultado do projeto “Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia e Horticultura Orgânica (CVT) de São Paulo”, desenvolvido pelo Grupo de Agroecologia Timbó, situado
na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP campus Botucatu. O CVT surgiu do edital 81 proposto pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, e outros, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico-CNPq. Como resultado temos uma série de articulações, associações e manifestações, estudantis, populares, de incentivo a outros eixos dentro do contexto agrário.

O CVT-SP propôs atividades como cursos voltados para estudantes, técnicos extensionistas e agricultores, participação nos assentamentos da região com trabalhos de extensão e pesquisas com as temáticas de tecnologias aplicáveis a agricultura familiar e desenvolvimento de biondicadores da eficiência ecológica de Sistemas Agroflorestais. Outra proposta do CVT foi a articulação com outros núcleos de agroecologia, criando uma rede de trocas de experiências e fortalecimento dentro do estado de São Paulo. Boa parte dessas atividades estão relatadas neste livro. Para facilitar a sua leitura, dividimos os capítulos em algumas seções, a saber: técnicas e pesquisas, extensão rural e universitária, articulação e comunicação, processos educativos e agroecologia e economia solidária e comércio justo.

Dentro do tema “economia solidária e comércio justo” o leitor poderá conhecer experiências como o CSA e outras iniciativas. Iniciativas estas que tem por objetivo aproximar o consumidor do produtor, fazer a ligação campo-cidade, evitar atravessadores, garantir alimentos saudáveis para a população, incentivar feiras, entre outros. Encontrará também relatos dos intensos e desafiadores trabalhos de extensão rural e universitária. Os leitores poderão conhecer interessantes e ousadas pesquisas, que trabalham com visão holística dos agroecossistemas. Elas fortalecem a agroecologia cientificamente, trazendo comprovações da forma de produção e inovações para o campo.Dentro do tema “processos educativos” experiências de grupos de permacultura do interior do  estado estão presentes e contam um pouco do trabalho coletivo e da importância do empoderamento  dos diversos atores para o enfrentamento da agricultura convencional destrutiva, através de metodologias participativas.

As experiências diversas no âmbito da articulação e comunicação permitirão o(a) leitor(a) viajar com os(as) caravaneiros(as) do comboio agroecológico pelo sudeste e com as caravanas regionais realizadas no interior de São Paulo entre os anos de 2015 e 2016, conhecendo as metodologias inovadoras, participativas e de incrível vivência. Nesta seção também estão relatadas as experiências de alguns NEAs (Núcleos de Estudos em Agroecologia), suas atividades dentro da Universidade e fora  dela e os esforços dos mesmos para criação de uma rede agroecológica no estado. Além, é claro, das  experiências de articulação como a APA (articulação paulista de agroecologia) e Rede Leste Paulista de agroecologia, contando os desafios para a construção de uma sólida rede. Por fim, temos como objetivo aqui contar histórias, ou sistematizar as atividades, a fim de  empoderar e encorajar novas experiências em outros territórios, com intuito de fortalecer a articulação dentro do estado, e dar sinergia nas ações.

Link: https://www.academia.edu/36787986/Plantando_Sonhos_-_Experi%C3%AAncias_em_Agroecologia_no_Estado_de_S%C3%A3o_Paulo_2018_

(REVISTA – RAF) Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e Desenvolvimento – RAF. v.13 , nº 2 / jul-dez 2019, ISSN 1414-0810

Titulo: Gestao em Sistemas Agroextrativistas para Territorios de uso comum na Amazônia – DOSSIÊ

Autores: Carlos V. A. Gomes. Angela M. Steward, Luis M.S. Silva (Orgs)

Ano: 2019 – Universidade Federal do Pará – UFPA – Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares – INEAF

Paginas: 283

A Revista Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e Desenvolvimento é um periódico científico vinculado ao Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da Universidade Federal do Pará. Criada em 1996, funciona como meio de comunicação científica voltado para a comunidade acadêmica nacional e internacional e também se dirige aos atores que se interessam pelos debates e reflexões em torno da Agricultura Familiar em suas mais diversas dimensões. Os próprios agricultores familiares, suas organizações, movimentos sociais, gestores públicos, povos e comunidades tradicionais, pesquisadores, formuladores de políticas públicas, dentre outros sujeitos, são estimulados a apreciar este empreendimento científico-pedagógico elaborado com todo esmero por nossa equipe. Com efeito, nossa revista pretende alcançar a maior diversidade de público com vistas a dar a conhecer as experiências, conhecimentos, abordagens teóricas e metodológicas e resultados de pesquisa. Muito embora o foco sejam os estudos levados a cabo no território amazônico, nos últimos volumes observamos o crescente interesse de pesquisadores e autores em socializar experiências do campesinato em outros biomas e contextos regionais brasileiros e internacionais. Como ressaltamos, a origem da Revista se confunde com a história de nossa unidade acadêmica dentro da UFPA. Ela nasce como um periódico impresso, funcionando assim até o ano de 2009. Até esse período, os processos avaliativos não exigiam com tanto rigor a
periodicidade dos números. Quem buscar a memória do periódico em sua página web, irá perceber as descontinuidades ocorridas nessa primeira fase. Os desafios naquela altura eram outros. Em termos editoriais, necessitávamos de recursos para impressão dos números físicos e sua distribuição ocorria via correspondência enviada para as Instituições Brasil afora. Contudo, seu foco sempre foi o mesmo: a Agricultura Familiar. Apesar desses pormenores, comuns à época, a RAF (Revista Agricultura Familiar), como hoje apelidamos carinhosamente este periódico, sempre foi pulsante e dinâmica.

Hoje ela integra o sistema periódicos da UFPA, estando vinculada a diversas bases de indexação. Pelo fato de ter inaugurado, desde 2014, sua versão eletrônica, ganhou outro ISSN (International Standard Serial Number, em português “Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas”), o chamado ISSN-e (menção a versão eletrônica), passando a ser publicada na página da UFPA, portanto, expandindo seu raio de inserção.  Dessa nova fase de vida para cá, a equipe editorial vem trabalhando para ampliar o quadro de avaliadores ad hoc, aperfeiçoando seu projeto editorial, aumentando a capacidade de acolhimento de contribuições e renovando o conselho científico. Além de William Santos de Assis, Flávio Barros e Gutemberg Guerra, contamos agora com a colaboração da Professora Angela May Steward que, juntos, constituem os editores-chefes. Moacir José Moraes Pereira, na condição de editor-gerente, tem sido fundamental para a dinamização
da revista, pois é dele a função de normatização, editoração e secretariado. Outra novidade é a geração do DOI (Digital Object Identifier, em português Identificador Digital de Objetos) de cada artigo, um avanço importante, pois tem como finalidade auxiliar a localização e o acesso de materiais na web, facilitando a autenticação de documentos. A periodicidade é semestral, contudo, o conselho editorial estimula a publicação de números especiais e dossiês temáticos.

Outra informação importante é que, desde que fora implantado o sistema webqualis, da Capes, a RAF vem integrando a plataforma, sendo avaliada nas áreas de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo; Ciências Agrárias I; Ciências Ambientais; Interdisciplinar e Linguística e Literatura. Na medida em que nossa revista vai crescendo, esperamos que ela possa integrar mais áreas de conhecimento para que, então, possa atrair ainda mais profissionais que valorizam o foco da Agricultura Familiar nas suas mais diversificadas abordagens. Nosso periódico é, por natureza, interdisciplinar e tem forte apreço pelas epistemologias heterodoxas.

A RAF publica em suas edições artigos de pesquisa e de revisão que sejam inéditos, resenhas de livros, entrevistas, relatos de experiências, e resumos de teses e dissertações. Neste número especial temos contribuições oriundas das pesquisas e intervenções dos pesquisadores e estudantes vinculados ao INEAF/UFPA por meio do Curso de Especialização em Gestão em Sistemas Agroextrativistas para Territórios de Uso Comum da Amazônia (GESAM), pós-graduação Lato Sensu que vem atraindo público de diversas áreas do conhecimento, como Ciências Agrárias, Ciências Sociais e Humanas, Ciências Ambientais e Ciências Naturais. Os manuscritos versam sobre temas diversos. Partindo do eixo central “Sistemas agroextrativistas e territórios de uso comum na Amazônia: Reflexões sobre transformações e continuidades”, discutem questões sobre trabalho, gênero, territorialidade, sistemas agroflorestais, afetações por grandes projetos de desenvolvimento, parentesco, políticas públicas, segurança alimentar, práticas de manejo, dentre outros. Agradecemos vivamente a cada autor e cada autora que confiou seu manuscrito a este periódico. Esperamos que a leitura estimule o pensamento crítico, a aprendizagem e o contato com as várias faces do mundo rural amazônico, cujas tramas entre natureza e  sociedade acontecem nos rios, nas florestas, nos assentamentos rurais, nas unidades de conservação, nas aldeias, nos projetos de assentamentos agroextrativistas, nos territórios quilombolas, no litoral, nos mangues, e também nas cidades. Que estas páginas sejam luz e possam chegar aos confins da Hileia. Excelente leitura!

Angela May Steward
Flávio Bezerra Barros
Gutemberg Armando Diniz Guerra
William Santos de Assis

 

Link: https://periodicos.ufpa.br/index.php/agriculturafamiliar

https://periodicos.ufpa.br/index.php/agriculturafamiliar/issue/viewIssue/419/124

[ARTIGO] Alternativas na mesa: adoção de tecnologias baseadas na agricultura 4.0 é o caminho para reduzir o consumo de pesticidas nas lavouras nacionais

Titulo: Alternativas na mesa: adoção de tecnologias baseadas na agricultura 4.0 é o caminho para reduzir o consumo de pesticidas nas lavouras nacionais

Autor: Yuri Vasconcelos

Ano: 2018

Um dos setores mais robustos da economia, o agronegócio é responsável por cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), responde por 20% dos postos de trabalho e se destaca na pauta de exportações do país, com soja, açúcar, celulose e carne bovina e de frango, ocupando os primeiros lugares da lista. A alta produtividade do setor depende, em boa medida, do uso intensivo de agrotóxicos, principalmente nas grandes plantações de soja, cana-de-açúcar e milho, que juntas respondem por 75% dos defensivos consumidos no Brasil (ver infográfico). Não por acaso, essas monoculturas ocupam extensas regiões de cultivo. As lavouras de soja e milho, por exemplo, correspondem a quase 70% do total da área semeada no país em 2018, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 61,7 milhões de hectares, equivalente a 7% do território nacional.

O emprego de elevados volumes de agroquímicos nessas plantações gera impactos diretos no ambiente, com a contaminação do solo e de fontes de água superficiais e subterrâneas, como rios, lagos e lençóis freáticos. A redução desses danos, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, passa pela adoção de novas tecnologias pelos grandes produtores agrícolas.

“Soluções baseadas na chamada agricultura 4.0, como sensores, máquinas inteligentes que ‘conversam entre si’, internet das coisas e robotização, podem auxiliar no uso mais adequado de diversos insumos, entre eles agroquímicos”, diz o engenheiro eletricista Fernando Martins, conselheiro da empresa Máquinas Agrícolas Jacto, uma das líderes mundiais em fabricação de pulverizadores (ver reportagem).

O emprego dessas tecnologias de ponta nos próximos anos, diz Martins, permitirá que os produtores rurais apliquem os insumos (pesticidas, adubo, sementes, água, entre outros) em taxas variáveis – e não de maneira uniforme como ocorre atualmente. Dosar a quantidade ideal de defensivos aplicados nas lavouras é um dos grandes desafios do setor. “O agricultor vai colocar mais defensivos em um talhão [pedaço da plantação] e menos em outro, de acordo com a necessidade, gerando economia e elevando a eficiência da pulverização”, explica. “Hoje, já há uma força contrária ao emprego excessivo de agroquímicos porque eles são caros.”

Além da Jacto, com sede em Pompeia (SP), outra empresa paulista que investe na agricultura digital é a Solinftec, de Araçatuba. Sua linha de máquinas e equipamentos agrícolas conectados está presente em cerca de 65% da lavoura canavieira de São Paulo. A pulverização de grandes extensões de áreas destinadas à produção de commodities, como soja, cana-de-açúcar, algodão, milho e eucalipto, para fabricação de celulose, é feita por aviões ou tratores, enquanto plantações menores, focadas no cultivo de alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, são muitas vezes pulverizadas pelos próprios agricultores, que utilizam aparelhos chamados costais (por serem presos às costas do aplicador).

“A pulverização aérea é um problema ambiental e de saúde pública. Os agrotóxicos lançados pelo avião avançam sobre mananciais, outras plantações, áreas de preservação ambiental e regiões habitadas. Quando se faz a aplicação aérea, a dispersão pelo ar é muito maior, impactando o ambiente e colocando em risco a saúde de quem mora na vizinhança, dos trabalhadores e de pessoas que consomem os alimentos”, ressalta Adelaide Cassia Nardocci, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).

Em parceria com o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a FSP-USP criou o portal Sistema de Busca de Informações sobre Agrotóxicos. Batizado de Ariadne, ele apresenta dados sobre o uso e as aplicações de agrotóxicos em São Paulo, com destaque para o comportamento da substância no ambiente e sua toxicidade para a saúde humana. “O Ariadne tem a função de auxiliar as pessoas não familiarizadas com o tema a encontrar informações sobre agrotóxicos”, diz Nardocci.

                                                                                                                                                                         Funcionário da Solinftec opera computador durante a colheita de cana-de-açúcarSolinftec

A necessidade de desenvolver soluções e sistemas inteligentes para conter a deriva – o volume de agroquímicos que não atinge a cultura-alvo – e que tornem mais eficiente a aplicação de defensivos e o controle de pragas levou à criação da Rede de Pesquisa Redagro montada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com 10 universidades e o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). Durante quatro anos, os pesquisadores trabalharam no projeto “Desenvolvimento da aplicação aérea de agrotóxicos como estratégia de controle de pragas agrícolas de interesse nacional”, encerrado no início do ano.

“A utilização de tecnologias, ferramentas da agricultura 4.0 e sistemas inteligentes de auxílio à tomada de decisão para o controle de pragas na agricultura tropical tem proporcionado caminhos para a segurança alimentar e energética”, pontua o engenheiro de controle e automação Paulo Cruvinel, pesquisador da Embrapa Instrumentação, de São Carlos, e coordenador da Redagro. De acordo com ele, o resultado desse esforço foi a criação de novos métodos, a adaptação de tecnologias e o desenvolvimento de estratégias para pulverizações mais eficientes.

Um dos estudos mostrou que a adoção de atomizadores rotativos – um tipo de bico pulverizador – em culturas de soja pode reduzir em torno de 80%, em média, a deriva nas aplicações aéreas na comparação com os bicos hidráulicos ajustáveis, os mais usados em aviões. Outra pesquisa, voltada à aplicação de defensivos por tratores-pulverizadores, estabeleceu níveis adequados de automação para adequar os bicos de pulverização e a pressão na barra pulverizadora conforme a trajetória do trator, em linha reta ou em curva.

Se a adoção de inovações tecnológicas é um meio de racionalizar o uso de agrotóxicos nas terras dedicadas à produção de commodities, nas lavouras de alimentos que abastecem as feiras do país, cultivadas principalmente por pequenos produtores, um caminho é estimular o cultivo orgânico, isento de defensivos agrícolas. Além de minimizar o risco de contaminação, a redução de agroquímicos pode diminuir a intoxicação entre pequenos produtores rurais. Responsáveis por 70% dos alimentos consumidos no país, eles somam 4,4 milhões de trabalhadores.

Estímulo à agroecologia

Em discussão na Câmara dos Deputados desde 2016, o Projeto de Lei nº 6.670/16, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA), prevê medidas para fortalecer a produção de orgânicos, a agricultura agroecológica e o controle biológico, técnica que utiliza insetos, fungos, vírus e bactérias no combate às pragas agrícolas. “O PNaRA é o contraponto ao PL nº 6.299/02”, afirma o biólogo Fernando Carneiro, membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará. “Ele tramita lentamente na Câmara. Só recentemente foi instalada uma comissão especial para analisá-lo.”

Outro ponto do PNaRA determina a eliminação de isenções tributárias e estímulos financeiros à importação, produção e comercialização de agrotóxicos. Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que a renúncia fiscal com agrotóxicos entre 2010 e 2017 alcançou R$ 9 bilhões. Como esses produtos são considerados insumos agrícolas, as despesas dos produtores rurais relativas a eles são passíveis de dedução.

                                                                                                                              Avião pulveriza pesticidas em plantio de cana-de-açúcar no interior de São PauloCaetano Barreira / Olhar Imagem

A agroecologia, explica Carneiro, defende um manejo sustentável das lavouras, incorporando na produção questões sociais, políticas, culturais, ambientais e éticas. “Esse tipo de prática leva em conta as condições de trabalho dos agricultores, a compatibilidade das culturas em relação ao ecossistema e o nível de industrialização de todo o processo”, diz o pesquisador. Ao mesmo tempo, evita o emprego de defensivos agrícolas e fertilizantes químicos, e estimula o plantio de orgânicos.

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a área destinada ao cultivo de orgânicos deve bater recorde este ano, ultrapassando os 750 mil hectares de 2016. Essa prática é impulsionada em boa medida pela agricultura familiar. Apesar do crescimento, os orgânicos representam apenas 1,2% da área plantada do país, o que coloca o Brasil como o 13º maior produtor do mundo.

“Entendemos que formas alternativas de produção são importantes. Tanto a produção convencional quanto a orgânica, desde que bem conduzidas, produzem alimentos seguros para o consumo. Não somos contra a agroecologia ou a produção orgânica, mas precisamos ser realistas. Os orgânicos são mais caros e a produtividade é mais baixa”, destaca o engenheiro-agrônomo Mario Von Zuben, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “A diferença entre os dois modelos é de escala. Para produzir a mesma quantidade de orgânicos é preciso um aumento significativo da área cultivada – e essa não é uma alternativa por causa do impacto ambiental e da degradação das florestas.” Para Fernando Carneiro, da Abrasco, é um mito que a agroecologia é cara e sem escala. Publicações recentes da Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recomendam que se estimule o sistema, por favorecer a economia solidária, priorizar mercados locais e apoiar o desenvolvimento regional.

Além disso, uma das formas de reduzir as intoxicações nas pequenas propriedades é investir na capacitação da mão de obra, de forma que os agrotóxicos sejam aplicados com cuidado. “Por falta de informação, muitos produtores rurais aplicam a substância em doses acima do recomendado e de maneira inadequada para as pragas que pretendem controlar. Daí a importância de receberem treinamento adequado”, afirma o engenheiro-agrônomo Hamilton Humberto Ramos, pesquisador do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico (CEA-IAC), em Campinas, e coordenador do programa Aplique Bem, que oferece aos agricultores treinamento para uso de agroquímicos. Além do risco à saúde, a aplicação incorreta de agrotóxicos gera perdas na lavoura e compromete a sustentabilidade da agricultura.

Link: https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/09/18/alternativas-na-mesa/

[REVISTA – FAPESP] Agrotóxicos na Berlinda

Titulo: Agrotóxicos na Berlinda – Proposta sobre nova regulamentação de pesticidas acirra debate acerca desses produtos, que permitem agricultura em larga escala mas apresentam riscos ao ambiente e à saúde da população rural.

Autor: Yury Vasconcelos

Ano: 2018

Uma das maiores potências agrícolas do planeta, o Brasil também se destaca por ser um dos grandes consumidores de agrotóxicos, substâncias químicas ou biológicas que conferem proteção às lavouras contra o ataque e a proliferação de pragas, como insetos, fungos, bactérias, vírus, ácaros, nematoides (parasitas que atacam as raízes das plantas) e ervas daninhas. A venda desses produtos no país movimenta em torno de US$ 10 bilhões por ano, o que representa 20% do mercado global, estimado em US$ 50 bilhões. Em 2017, os agricultores brasileiros usaram 540 mil toneladas de ingredientes ativos de agrotóxicos, cerca de 50% a mais do que em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Ingrediente ativo é a substância responsável pela atividade do produto.

Relatório divulgado no ano passado por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente no mundo vítimas de envenenamento agudo por pesticidas – basicamente trabalhadores rurais e moradores do campo. No Brasil, 84,2 mil pessoas sofreram intoxicação após exposição a defensivos agrícolas entre 2007 e 2015, uma média de 25 intoxicações por dia, conforme dados do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos 2018, elaborado pelo Ministério da Saúde. Pesquisas sugerem que a exposição de trabalhadores rurais a defensivos agrícolas aumenta o risco do surgimento de diversas formas de câncer, além de distúrbios hormonais e malformações gestacionais. Já estudos associando o consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos ao câncer e a outras doenças são menos conclusivos.

Link: Agrotóxicos na berlinda

http://www.revistapesquisa.fapesp.br

 

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